Nova Vice-Presidência de Registro conta com a determinação de Cibele Pereira Costa

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Como teve início sua relação com a Contabilidade?
Meu pai, empresário contábil desde 1969, é minha grande inspiração. Quando criança, eu brincava com as máquinas de calcular e de datilografia existentes na empresa dele e sempre o vi chegar em casa satisfeito com o trabalho, independentemente do cansaço. Em uma época que a informação era restrita, nunca mediu esforços para solucionar os problemas dos clientes. O exemplo fala mais do que mil palavras e essa garra e satisfação profissional que ele demonstrava sempre me motivou. Eu tinha um plano: fazer o curso Técnico em Contabilidade e, em seguida, a graduação em Direito para prestar concurso para a magistratura. No entanto, me apaixonei pela Contabilidade e optei por não sair mais da organização que era dele e se tornou “nossa”.

Qual é a sua formação acadêmica?
Sou técnica em contabilidade pelo Colégio São Judas Tadeu, graduada em Direito pela FMU e tenho MBA em Controladoria e Gestão Estratégia de Negócios pela PUC-SP.

O que a motivou fazer parte das entidades contábeis congraçadas e trabalhar em prol da classe contábil?
Logo após concluir o curso Técnico em Contabilidade, percebi que muitas normas tributárias e fiscais eram de difícil aplicabilidade, o que atrapalhava, e muito, o trabalho em nossa empresa e o ambiente de negócios de uma forma geral. Isso me indignava, pois é um contrassenso o Fisco dificultar a rotina das organizações, uma vez que são elas que geram empregos e pagam os impostos para a sustentabilidade do próprio Governo. Percebi que sozinha seria difícil gerar mudanças e que precisava me engajar em alguma entidade que defendesse os pleitos da classe contábil e dos empresários. Foi aí que decidi, há 15 anos, fazer parte da Câmara Setorial de Contabilidade do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP). A proposta na época era inovadora: possibilitar o encontro de empresários da contabilidade para discutir assuntos relacionados à gestão das suas empresas. Os assuntos eram interessantes e passei a frequentar as reuniões mensalmente, sempre me posicionando sobre os temas propostos. Em 2005 fui convidada para integrar um dos grupos de profissionais que participam das Eleições do CRCSP.

Desde que ano é conselheira no CRCSP? Comente essa experiência e de que forma tem tentado contribuir para a valorização da profissão?
Iniciei meu trabalho como conselheira do CRCSP em 2006, na III Câmara de Fiscalização, Ética e Disciplina. Nestes 12 anos tive a oportunidade de também compor as Câmaras de Desenvolvimento Profissional e de Registro. Participei das Comissões CRCSP MulherCRCSP Jovem, Ciclo de Palestras, Assessoramento à Fiscalização e Registro, Gerenciamento de Delegacias e de alguns grupos de trabalho. É um trabalho honorífico e extremamente gratificante, pois temos a oportunidade de conviver com profissionais contábeis de diversas áreas de atuação. Cada câmara, cada comissão, cada grupo tem o seu objetivo e participando das reuniões, analisando os casos concretos, além de julgar os processos ético-disciplinares, temos condições de opinar e sugerir mudanças na nossa legislação regulatória, sempre visando à valorização da profissão. Algumas ações estão dentro da nossa competência em São Paulo, outras, que não estão, são encaminhadas ao CFC. Um exemplo de atuação é o Código de Ética Profissional do Contador que está em audiência pública no CFC. Todos nós, profissionais, podemos opinar e sugerir mudanças até o dia 24 de fevereiro. A legislação atual é de 1996 e precisa ser mudada para contemplar todas as inovações que o mundo digital nos trouxe.

O número de mulheres na Contabilidade só aumenta, ao mesmo tempo em que as mulheres lutam por mais respeito e direitos iguais em todos os cenários, especialmente no mercado de trabalho. Qual a sua opinião e como se sente fazendo parte desse avanço, já que ocupa o cargo de vice-presidente em um importante órgão contábil do país?
É uma grande honra ocupar este cargo. Quando a Constituição Federal de 1988 foi promulgada eu tinha apenas 10 anos e cresci sempre acreditando naquilo que está escrito no Art. 5º.  “Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza… I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações…”. Porém, sei que a realidade em nosso país é bem diferente.  As mulheres já alcançaram espaço no mercado de trabalho; ultrapassaram o gênero masculino nos bancos universitários de Ciências Contábeis; no Estado de São Paulo somamos mais de 41% dos profissionais registrados e isso, sem dúvida, é um grande avanço. No entanto, quando observamos os cargos de alta direção, ainda são poucos os ocupados por mulheres. Recentemente no XI Encontro da Mulher Contabilista, nossa presidente Marcia Ruiz Alcazar, participou de um painel que discutia o fenômeno chamado “Teto de Vidro”. Trata-se de uma barreira invisível que dificulta a promoção das mulheres para cargos de alta direção. Essa barreira é cultural e precisamos falar sobre isso, pois, muitas vezes, ainda existe discriminação nos processos seletivos. Vale lembrar que, quando achávamos que estava tudo caminhando para a efetiva igualdade gênero, começamos a observar o aumento de denúncias de abusos e atentados contra a mulher no Brasil. Esta questão independe de classe social, haja vista as recentes denúncias de assédio que algumas atrizes de Hollywood fizeram contra alguns produtores de cinema. É um problema cultural. Percebemos que ainda há muito o que fazer, começando pela educação de nossos filhos e filhas e no exemplo dentro de nossas casas.
  
A área de Registro do CRCSP é a porta de entrada dos profissionais na Contabilidade. Como pretende trabalhar a conscientização de estudantes sobre a necessidade de estar registrado no órgão para atuar legalmente na profissão?
O CRCSP realiza um trabalho permanente de proximidade com a área acadêmica, visando ampliar a consciência dos estudantes sobre a importância de investir na área contábil. A entidade conta com ações de integração com as instituições de ensino do Estado de São Paulo, entre elas universidades que oferecem o curso de Ciências Contábeis e escolas do ensino médio. Universitários, alunos que ainda não decidiram que carreira seguir e técnicos em contabilidade são públicos importantes para a entidade que almeja que cada vez mais pessoas optem pela Contabilidade. É preciso levar a esses jovens informações sobre o quão promissor é a carreira contábil e as vantagens de se ter o registro em CRC.

Quais são as suas expectativas sobre a Contabilidade para os próximos anos?
A Contabilidade consultiva é uma área em franca expansão. As grandes empresas sempre buscaram a informação contábil para tomada de decisão. Com a disseminação do conhecimento, podemos observar um movimento, também dos micro e pequenos empresários, na busca pela informação contábil para um melhor gerenciamento de seus negócios. Isso se transformou em realidade há cerca de dois anos, com a crise econômica. Com menos dinheiro circulando era de suma importância checar custos, margem de lucro, cortar despesas, enfim, analisar a “saúde” da empresa e ninguém melhor do que o profissional da contabilidade para trazer essas informações. Até então, os micro e pequenos empresários desconheciam a importância da Contabilidade e não havia o interesse em entender. A Contabilidade era uma mera formalidade legal. Atualmente, os empresários solicitam informações e os profissionais da contabilidade precisam estar preparados para atender. O contador-consultor terá futuro promissor.

Essa mudança do papel do profissional está relacionada ao avanço da tecnologia?
Sim, devido especialmente à automatização de processos em contabilidade, o profissional da contabilidade está voltado cada vez menos para uma prática tecnicista e cada vez mais para práticas humanistas. O trabalho burocrático se transformou em analítico e se tornou gerencial. Os dados deixaram de ser simplesmente produzidos e passaram a ser analisados, com o objetivo de prever o impacto contábil de cada decisão nos negócios.

Diante dessas novas funções e responsabilidade do profissional da contabilidade, o que você acha que precisa ser compreendido e melhorado no comportamento da classe contábil?
A postura dos profissionais. Há quase quatro anos estamos, diariamente, sendo informados pela imprensa sobre operações da Polícia Federal de combate à corrupção. Em 2012, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) instituiu a Comunicação de Ocorrência/Declaração Negativa, muitos profissionais reclamaram da nova obrigação acessória. Não considero essa exigência uma mera obrigação acessória. Trata-se de um mecanismo de defesa do país, no qual os profissionais da contabilidade têm o poder e o dever de transmitir as informações ao Coaf, tendo resguardado o sigilo de quem informa. Esse é o nosso múnus.  O dinheiro da corrupção circula e pela natureza de nosso trabalho contábil conseguimos identificar quando existe uma atitude suspeita. Precisamos dar a nossa contribuição, para a valorização da nossa profissão, substituindo a cultura do “jeitinho brasileiro”, da sonegação de impostos e de diversas pequenas fraudes em transparência e compliance.

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