Existe data-limite para mulheres no mercado de trabalho?

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De: Universa

No Brasil, mulheres acima de 45 anos são mais de 29 milhões de pessoas, cerca de três vezes toda a população de Portugal. Onde estão essas mulheres? No painel que marca o último dia de Universa Talks, a arquiteta, escritora e ativista Joice Berth e a psicanalista, escritora e diretora do Instituto Gerar, Vera Iaconelli, debatem “Mulheres de hoje, um recado para as mulheres do amanhã”, com mediação da jornalista gaúcha Patricia Parenza. “Eu sinto um peso muito grande da invisibilidade que a mulher atinge a partir de uma certa idade”, diz Joice, enquanto Vera faz uma reflexão sobre um padrão colocado pela sociedade de como seres reprodutores. A vida da mulher se resume entre a primeira e a última menstruação”

Como a sociedade e o mercado de trabalho enxergam mulheres acima dos 45 anos e como conquistar mais espaço dentro dele? Nesse debate, a palavra foi das “perennials”

A invisibilidade e a idade-limite para trabalhar Segundo estudos, o pico de inteligência emocional se atinge ao 60 anos, enquanto a capacidade cognitiva, entretanto, é reduzida. “Existe um contraponto entre uma cognição mais lenta e um emocional muito mais preparado para a vida e para o trabalho”, reflete a jornalista Patricia, mediadora do debate.

Vera Iaconelli diz ver uma mudança nessa invisibilidade, mas sugere que as mulheres reflitam sobre o ponto em que estão na carreira. “Isso começa a ser valorizado como uma forma de diversidade, mas precisamos reconhecer também que a gente tem que fazer adaptações. Repensar a carreira, os objetivos, desejos, o corpo e o momento em que você se encontra agora”, diz.

Para Joice Berth cada geração tem suas contribuições específicas para oferecer à sociedade e para ao mercado de trabalho e a mulher perennial também precisa ter suas experiência e liderança valorizadas: “Precisamos acabar com essa cultura de colocar mulheres com mais de 40 anos apenas como staff [em funções de apoio], colocar em stand by”.

Joice, que é mãe de quatro filhos, contou que quando era mais nova pecava muito por não ter o jogo de cintura que tem hoje e que conviver com uma geração mais jovem faz com que ela esteja atualizada, mas colocando panos quentes no fervos que eles trazem.

“Eu sempre apostei e vou continuar apostando na diversidade e interação de gerações” Joice Berth

Um novo ritmo após os 45

Vera contou que sente que as gerações mais novas encaram mulheres maduras como pessoas mais lentas. “Eu acho que a gente tem que parar de pedir desculpa pela lentidão, ela é uma qualidade. A pressa que temos hoje faz parte de toda uma lógica capitalista. A gente tem que começar a fazer quase que um culto à lentidão do refletir e do pensar. Não temos que pedir desculpas pelos nossos ritmos humanos.”

Joice concorda e sugere que a velocidade rotineira que adotamos como forma de vida seja repensada no futuro próximo. “O caos que a gente vive hoje não é normal. Temos a função de fazer as pessoas caírem na real de que esse ritmo é insano. Eu penso que talvez o pós-pandemia seja um momento onde as pessoas passem a usar os instrumentos virtuais de uma maneira mais realista. As redes não podem ditar o ritmo da nossa vida”, reflete Joice.

 

“A vida lenta é uma vida saboreada”Vera Iaconelli

A beleza e sexualidade da mulher madura

Joice levante o debate de reposicionar o conceito de beleza, que obedece as exclusões e desigualdades sociais. “Sempre que uma mulher começa a envelhecer, ela está conectada com uma ideia imposta de feiúra”, diz a ativista que ainda completa: “Empoderamento é um instrumento de luta social e política por emancipação, não pela nudez. Você pode mostrar o seu corpo e desenvolver uma relação positiva com ele, mas com cuidado para não cair na armadilha de controle de corpos que existe no machismo”.

Nesse assunto, entra também a questão de opressão de gênero. “Por que um homem grisalho é charmoso e uma mulher grisalha é velha?”, emenda Patricia.

A conversa também abordou a questão da sexualidade pós-menopausa. Vera diz que, depois de um período conturbado, marcado pela entrada na menopausa, o interesse por sexo, o desejo e a sexualidade voltam aos patamares anteriores —mas, trazendo mais sabedoria nas escolhas. “Quando eu tinha 20 anos eu passava na frente do MC Donalds, entrava e comia. Agora eu prefiro andar mais um pouquinho e ir para um restaurante melhor.

“A gente tem que entender que a idade avança e a beleza se modifica, mas não se anula” Joice Berth

Como encarar o futuro?

“Viver em uma sociedade com tantos problemas faz com que a gente internalize e naturalize vários deles. Muito mais do que ter urgência de ter um discurso e levantar uma bandeira, é melhor olhar para dentro e fazer um exercício interno”, adverte Joice.

Ao olhar para o futuro, Vera reflete sobre o passado: “O reconhecimento da nossa história, das primeiras feministas que viveram condições terríveis, trouxe à nova geração a possibilidade de diálogos iguais. É importante tornar o trabalho dentro de casa ser mais justo, para que o de fora de casa seja também”, indica.

Para Joice, o que fica é a garra: “Quando eu penso em desistir, eu olho para trás e vejo a situação da minha avó. A mudança é pouca, mas é significativa. As jovens precisam encarar os novos tempos com coragem e não se deixar vencer”

“A nossa função foi mostrar que existe caminho, a função delas é caminhar” Joice Berth

Passado, presente, futuro

Nina da Hora encerrou o evento com um speech sobre o futuro que desejamos para as mulheres, sobretudo, as negras Imagem: Arte/UOL O último dia do Universa Talks falou do futuro da mulher no mercado de trabalho – tema central de todo o evento. Depois de discutir equidade de gênero, desemprego e empreendedorismo, binômio carreira e maternidade e a diversidade, fechamos nossa programação com o debate sobre invisibilidade das mulheres acima de 45 no mercado de trabalho.

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/07/17/existe-data-limite-para-mulheres-no-mercado-de-trabalho.htm

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