XP lança fundo que investe em empresas com mulheres na liderança

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Foto: Valor Investe

Por Naiara Bertão

Poder investir em um produto que alie lucro à uma causa social está ficando cada vez mais possível no Brasil. A mais recente iniciativa sobre isso é da XP Investimentos, que começa a vender nesta sexta-feira (11) um novo fundo de investe que não apenas aplica o patrimônio em empresas comprovadamente com mulheres na liderança, como ainda doa parte da taxa de administração a um projeto social.

O Trend Lideranças Femininas é um fundo multimercado que investe em ETFs (fundos de índices negociados em bolsa) do índice americano SPDR SSGA Gender Diversity Index, gerido pela State Street. Apesar de ser multimercado, o fundo só tem na carteira ações de empresas listadas na bolsa americana e que tenham uma real preocupação com o aumento da proporção de mulheres em altas posições.

“Falamos muito sobre a questão da diversidade e vários estudos comprovam que empresas mais diversas tem melhor performance e estão alinhadas com o futuro que enxergamos. Queremos ser uma empresa mais diversa e gostaríamos de influenciar e dar oportunidade para o mercado seguir nessa direção”, diz Marta Pinheiro, diretora de ESG da XP.

A escolha desse índice, que nasceu em 2016 e dá um retorno anual médio em torno de 8% desde então, se baseia em alguns critérios, de acordo com José Tibães, responsável por Fundos de Investimento na XP Investimentos. Um deles é que ele já tem volume considerável de dinheiro, US$ 133 milhões de patrimônio (quase R$ 700 milhões).

Segundo porque é pulverizado – é composto por ações de 168 empresas listadas na bolsa americana e nenhuma pode ter mais de 5% – esse ajuste é feito no momento do rebalanceamento da carteira.

Fazem parte do portfólio: PayPal, Visa, Johnson & Johnson, Texas Instruments, Netflix, Walt Disney, Nike, Intuit, Zoetls, Wells Fargo, entre outras. Setorialmente, tecnologia responde por 31% da carteira, seguido por consumo cíclico (15%), saúde (15%), financeiro (12%) e bens industriais (12%).

Beatriz Vergueiro, responsável por produtos ESG na XP, lembra que algumas dessas empresas já são referência quando se fala em esforço de igualdade de gênero no mundo corporativo. Ela lembra da Paula Paschoal é CEO do PayPal Brasil, Bozoma Saint John como CMO (diretor de marketing) da Netflix e que a Johnson & Johnson tem quatro diretoras.

“São algumas das empresas que inspiram a gente nessa agenda [de igualdade de gênero] para construirmos esse futuro na XP. Mais importante é que é uma iniciativa com causa”, diz Beatriz.

E terceiro motivo foi a metodologia que a gestora do índice – State Street – usa: a amostra começa com 1 mil companhias que são divididas em 11 setores e ranqueadas pela proporção de mulheres em altos cargos de liderança (vice-presidência, presidência e conselho de administração) em relação ao total de funcionários da empresa. São escolhidas, então, as companhias com as maiores proporções.

A divisão por setores, segundo Tibães, é importante porque é natural que alguns setores sejam mais concentrados do que outros e destacando empresas de todos eles, é também uma maneira de promover a equidade em todo o mercado e incentivar as áreas que estão ficando para trás.

“Como todas as empresas são públicas e negociadas na bolsa, elas documentam quais as pessoas nos cargos de liderança e com essas informações, públicas, a gestora faz atualizações e podem mudar a carteira no meio do caminho”, explica.

O fato de o índice já estar no mercado a mais tempo – mais de quatro anos – também pesou da escolha porque permite ver o histórico de investimento, volatilidade e performance.

O fundo será aberto para qualquer investidor – não precisa ser qualificado – ao valor mínimo de aplicação inicial de R$ 100. O resgate é de seis dias (D+6) e a taxa de administração de 0,5% (não tem taxa de performance).

Aí entra um outro diferencial: a destinação de 20% da taxa de administração para o Instituto As Valquírias, iniciativa de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, que usa arte, educação, música e esporte para formar meninas e mulheres mais preparadas para trabalhar, empreender e se destacar.

Segundo Amanda Oliveira, fundadora e CEO do Instituto As Valquírias, hoje são atendidas 32 mil crianças e adolescentes de risco e vulneráveis.

“Nossa missão de fato é gerar impacto para mais meninas e mulheres. O que nos motiva e dá gás é o movimento que acontece em prol das mulheres; lutamos para que o tema desigualdade de gênero apareça apenas nos livros de história. Fomentar e dar cada vez mais voz para que essas mulheres ocupem lugares e que a falta de oportunidade não seja um empecilho”, diz Amanda.

A estimativa é que o dinheiro doado pela XP, que depende da captação do fundo, ajude a formar 700 meninas e mulheres. “Com a parceria vamos crescer e expandir o impacto que vamos gerar no mundo”, diz Amanda. “Queremos levantar e dar voz à desigualdade de gênero e fazer um convite para a sociedade para refletir que entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, é super possível ficar com os dois.”

Além do dinheiro, a XP e rede parceira vão disponibilizar mentorias para as pessoas atendidas pelo projeto e estruturar em conjunto com o instituto e a Xpeed, escola da XP, um curso de imersão que capacita financeiramente as mulheres.

“A parceria vai além de só a alocação dos recursos financeiros”, diz Beatriz. “A gente escolheu a Amanda não só pela história de vida e determinação, mas principalmente porque o principal pilar de impacto do instituto é prover educação a jovens líderes. Educação é sempre o melhor caminho”, completa.

“Segundo setor e terceiro setor vai fazer com que crescemos e expandimos o impacto que vamos gerar no mundo. Não há pq não voar e fazer acontecer. XP socialmente responsável há muito tempo. Levantar e dar voz à desigualdade de gênero e convite para a sociedade que entre ganhar dinheiro e mudar o mundo é super possível ficar com os dois.

Fundo no exterior
Perguntada pelo Valor Investe porque o fundo não terá ações brasileiras, Marta explica que é mais fácil ainda encontrar empresas com o propósito e que atenda aos critérios no exterior do que no Brasil, mas que querem, futuramente, lançar produtos com causa similar e que invista em empresas aqui.

“Sem dúvida é um questionamento que a gente mesmo se fez e acreditamos que esse é apenas o primeiro passo. Para ter de fato um retorno financeiro consistente e termos uma amostra relevante e critérios claros para avaliar a liderança feminina nas empresas temos ainda o que trabalhar no mercado local”, respondeu a diretora de ESG da XP. “Não queríamos um produto que só unisse ações e referências, mas sim fazer uma due dilligence criteriosa nas empresas. Fica, sem dúvida, a provação para nós e todo o mercado.”

Segundo Tibães, “certamente” no ano que vem a empresa vai pensar em outros produtos com um modelo de ativos locais e globais. Podem ser lançados, inclusive, produtos que fomentem outras causas, como a ambiental. Enquanto isso, a meta para este fundo de liderança feminina é chegar em R$ 100 milhões de patrimônio até o fim do ano.

Fonte: https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/multimercados/noticia/2020/09/10/xp-lanca-fundo-que-investe-em-empresas-com-mulheres-na-lideranca.ghtml

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